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quarta-feira, 19 de março de 2008

Carta ao meu pai


Escrevi esta carta a 19-Março-1980 e nunca a entreguei ao meu pai ... ele faleceu de acidente de viação a 26 de Novembro do mesmo ano.


"Pai,



Hoje é o teu dia e não tenho nada para te oferecer. Quero dizer-te tanta coisa e não consigo, quero abraçar-te e não sou capaz.



Gostava de te dizer que te adoro mesmo quando te vejo embriagado e fico sem alegria; queria dizer-te que os teu cabelos brancos são muito valiosos para mim pois mostram-me que a idade vai tomando conta de ti e isso significa que tal como eu, já foste jovem, mas nesse tempo, durante a tua juventude, trabalhavas nos campos alentejanos, de sol a sol com o suor escorregando pelo teu rosto (agora já com as rugas a aparecer), para hoje teres a alegria de me dares o que nunca tiveste.



Queria dizer-te tudo isto mas não sou capaz porque entre nós não existe diálogo ... por isso, apenas consigo continuar a chamar-te PAI.



A tua filha que te adora,
Lena"


P.S. - Jurei nunca mais guardar cartas na gaveta.

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